A INSTITUIÇÃO RELIGIOSA
Marilda Iwaya
Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disso a minha gente lá de casa começou a
rezar... (Assis Valente)
Imagine se algo semelhante ocorresse hoje, ou se nos fosse
dado o poder de saber o dia de nossa
morte? Como agiríamos? O que pensaríamos? Para muitos, a consciência de nossa
finitude, a certeza de que somos mortais, levaria a repensar nossos valores,
nossos atos cotidianos, nossas preocupações, as quais, numa situação como a
colocada acima, ganhariam outra dimensão. Os versos citados acima pertencem à
música “E o mundo não se acabou” do
compositor Assis Valente (1908-1958), e foram inspirados numa notícia divulgada
nas rádios do país no ano de 1938.
A notícia era uma brincadeira (é claro), mas o fato provocou
a preocupação e agitação da população do
país que teve as mais variadas reações, desde gastar todo o dinheiro, até
praticar atos considerados insanos...
“Beijei na boca de quem não devia
Dancei um samba em traje de maiô” (Assis Valente)
Talvez nem seja necessário pensar no fim do mundo, ou na
própria morte, mas o simples fato de ficar “frente a frente” com a perda de
alguém muito querido, comover-se com as
catástrofes que levam à morte de milhões de pessoas ou com o drama
cotidiano dos doentes e famintos que passam a vida somente em busca de
alimento, e morrem ignorando totalmente as possibilidades que a vida pode nos
oferecer, sejam situações que certamente levam muitos de nós a pensar sobre o
sentido da vida, sobre as razões de nossa existência, sobre os motivos que
fazem cada um de nós termos vidas tão diferentes. Estas são questões que
incomodam a humanidade desde os mais remotos tempos, muito antes dos filósofos
gregos colocarem as clássicas questões: De onde viemos? Quem somos? Para onde
vamos? Para que viemos?
A busca dessas respostas motivou-nos a desenvolver o que
podemos chamar de pensamento sagrado, ou seja, nossa imaginação e inteligência,
movidas pela curiosidade, levou-nos a criar histórias que nos explicam e
aquietam nossas angústias sobre os mistérios acerca da criação de todo o
universo, e sobre o destino que nos espera. É claro que a ciência também se
encarregou de buscar estas respostas, mas trataremos disto mais a frente.
Segundo Marilena Chauí, filósofa brasileira, o “sagrado
opera o encantamento do mundo” (Chauí,1998: 297), ou seja, essa forma de
pensamento nos remete a um mundo povoado de seres sobrenaturais com poderes
ilimitados que nos observam, nos recompensam, nos castigam, nos auxiliam, etc.
Em todas as culturas conhecidas, vamos encontrar
sinais do sagrado. Não importa se são seres naturais dotados
de poderes sobrenaturais – a água, o fogo, o vento, se animais – o cordeiro, a
vaca, a serpente, se seres com forma humana – santos, heróis, ou seres
imaginários – anjos, demônios. Em outros casos não há deuses, mas práticas,
regras ou rituais com dimensões sagradas. Exemplificando: para alguns
povos indígenas o Sol e a Lua são
considerados sagrados, para os hindus, a
vaca é um animal digno de idolatria, os judeus não cultuam deuses, mas têm seus
dogmas, assim como os budistas, que transformam todo o universo em entidade
sagrada. Juntamente com o desenvolvimento do pensamento sagrado, são criados os “locais sagrados”, templos,
igrejas, sinagogas, terreiros, mesquitas, os céus, que são os lugares
estabelecidos para as celebrações, as homenagens, os sacrifícios, enfim são os
lugares em que as pessoas se reúnem ou aos quais se dirigem mentalmente, para
reafirmarem suas crenças, celebrarem seus rituais. Observe que para algumas
religiões, em alguns momentos históricos, esses locais tornam-se verdadeiros
símbolos de poder, como as catedrais medievais.
2-O que são os
rituais?
Os rituais são atos repetitivos, que rememoram o
acontecimento inicial da história sagrada de determinada cultura. É fundamental
na celebração do ritual que as palavras e os gestos sejam sempre os mesmos,
pois trata-se de uma reafirmação dos laços entre os humanos e os deuses. Quem
já presenciou uma cerimônia de casamento da Igreja Católica conhece de antemão
as palavras e os gestos que serão ditos e praticados pelo padre e pelos noivos.
Trata-se de um ritual de passagem, da vida de solteiro para a vida de casado.
Os rituais são realizados para agradecermos graças recebidas, para pedirmos
ajuda, para desculpar-nos por atos considerados incorretos, assim como para
sermos aceitos numa religião, ou nos despedirmos da vida.
Outra importante característica das religiões são os dogmas
– verdades irrefutáveis que são mantidas pela fé. Um dogma jamais pode ser
questionado, ou colocado em dúvida. Por
exemplo: a transformação do vinho e do pão em sangue e corpo de
Cristo. Este conjunto de símbolos
sagrados, que inclui o pensamento religioso, somado aos locais e rituais
sagrados formará um sistema religioso, ou uma religião.
São muitas as definições propostas a este termo. Por
tratar-se de um aspecto ao mesmo tempo amplo, multifacetado e que envolve a
subjetividade humana, torna-se quase impossível chegar-se a algum consenso. No
entanto, escolhemos para este texto uma pequena definição de Peter Berger,
sociólogo norte-americano:
“a religião é uma obra humana através da qual é construído
um cosmo sagrado” (BERGER apud FILORAMI&PRANDI, 1999:
p.267).
Em sua definição, Berger contempla tanto o aspecto
transcendental quanto o cultural (obra humana). Prosseguindo nesse raciocínio,
cabe a explicação etimológica da palavra religião. A partir de um pensamento de
Santo Agostinho o qual nos propõe que liguemos nossa alma a um único Deus,
temos hoje a associação da palavra religião a “religar”. Ligar o que a quê?
Ligar o mundo sobrenatural, sagrado, ao mundo humano, ou profano, fazer-nos crer
(e este é um aspecto fundamental da religião: a fé), que nós mortais não
estamos sozinhos no universo, que há um sentido para a vida, e que cabe a cada
um de nós tentarmos descobrir a que viemos.
Em resumo, consideramos que esta seja uma das formas de
compreendermos o pensamento religioso: A religião como uma forma de alimento às
nossas esperanças, como uma força que nos impulsiona em direção a construção
daquilo que consideramos justo, ético e ideal. A crença de que em última
instância, algo ou alguém irá nos socorrer, que não estamos abandonados à
própria sorte, pode nos dar a força necessária para prosseguirmos em nossa
aventura pela vida! A religião pode também nos ensinar a conviver com nossos
conflitos interiores e aceitarmos o que é inevitável, caso contrário, a vida se
tornará inviável. Talvez elevar o pensamento ao Céu possa colocá-lo à altura de
nossos desejos.
Mas por que estudar a religião, e suas várias manifestações?
Antes de tudo porque não vivemos isolados no mundo. Estamos em contato contínuo
com as mais diversas culturas do planeta! Já há muito tempo a antropologia nos
alertou sobre os riscos e os prejuízos que o pensamento etnocêntrico causaram à
humanidade. Quantas culturas arrasadas, quantos povos destruídos e dominados em
virtude da ignorância e da arrogância de outros, mais poderosos economicamente.
Hoje, é inadmissível termos este tipo de atitude, qual seja, a de olharmos com
superioridade para povos com culturas diferentes da nossa, julgarmos como
inferiores comportamentos culturais que nos parecem “estranhos” ou exóticos.
Conhecer as diferentes religiões que se espalham por nosso país e pelo mundo afora,
possibilita-nos abrirmos os olhos para o mundo, ou melhor, conhecermos outras
dimensões para se compreender e explicar a vida e o universo. Veremos que o
mundo é muito maior do que imaginamos e muito mais fascinante depois de
conhecermos as histórias que buscam dar significado às nossas existências.
Uma segunda forma de compreensão do pensamento religioso é
percebêlo como instrumento de dominação, de intolerância, e que ao extremo pode
chegar ao fanatismo religioso. No Brasil, temos hoje o respeito e a tolerância
pelas mais diversas religiões. Não somos obrigados a seguir uma única religião,
como ocorre em alguns países. Inclusive a Constituição Nacional nos assegura a
liberdade de credo e de culto segundo o art.5º, cap.I, inciso VI. Isso
significa que, ao nascermos, quase sempre seguimos a religião de nossa família,
mas que ao longo da vida podemos escolher uma nova religião, ou mesmo optarmos
pelo ateísmo. Essa conquista, no entanto, foi obtida por meio de muita luta e
de muita opressão. Relembrando um pouco da história de nosso país, vamos chegar
aos povos nativos que aqui habitavam. Estes povos, assim como ocorre em todas
as sociedades “primitivas”, tinham o pensamento religioso como eixo central de
suas vidas, o sagrado permeando todas as relações e explicando todos os acontecimentos
da comunidade. Tinham portanto, seus deuses, seus rituais, que davam
significado à sua existência. A chegada dos europeus, povos de tradição
católica, na condição de colonizadores, provocou um verdadeiro massacre cultural.
Os padres jesuítas, representantes do catolicismo,
iniciaram, no Brasil, na primeira metade do século XVI, sua obra de
catequização, impondo novos valores e uma visão de mundo aos curumins, que em
nada correspondiam à cultura daqueles povos. A visão eurocêntrica fazia-os crer que os
indígenas, apesar de estarem situados numa escala inferior de humanidade, se
comparados aos europeus, ainda assim poderiam ser cristianizados e salvos com
intervenção
de um religioso que lhes encaminhasse para a fé.
Logo em seguida, com o processo de colonização, povos
africanos foram trazidos como escravos e consigo carregam também seus cultos, suas
crenças, seus rituais, enfim sistemas religiosos estruturados há muito tempo.
No Brasil, essas pessoas foram tratadas como mercadorias, como coisas, e
portanto, suas crenças também foram desprezadas, ou pior, proibidas. Mais tarde
houve a vinda de outros povos europeus e asiáticos que imigraram em busca de
terras e trabalho. Junto com seus sonhos, trazem também suas religiões, as
quais buscaram preservar, como forma de manterem-se unidos e mais fortes numa
terra tão estranha a seus hábitos culturais.
No entanto, mesmo com todas essa variedade religiosa, as
leis brasileiras declaravam o catolicismo como a religião oficial do país.
Aliás, a Igreja Católica, no Brasil sempre teve um poder muito grande, não somente
em seu âmbito, mas também nas questões políticas nacionais e regionais. Até o
advento da República, Estado e Igreja legislavam em conjunto, decidindo os
rumos da nação. Ainda no período Vargas (1930 – 1945), vamos encontrar fortes
influências dos chamados setores católicos na política nacional.
Mas por que a Igreja
Católica possui tanto poder?
A origem deste poderio da Igreja Católica pode ser
encontrado no fim do Império Romano do
Ocidente, com a legalização do cristianismo no ano 313. A partir daí, o
progresso do cristianismo se acelerou, chegando ao seu auge na Idade Média
européia. Nesse período da história, a Igreja Católica reinou absoluta,
decidindo os destinos dos reinos e dos indivíduos. Todos eram obrigados a
professar a mesma religião, e aqueles que não obedecessem seriam duramente
castigados. Foi um tempo de muito terror e mentiras. Qualquer ato ou sinal que contrariasse
os rígidos preceitos da Igreja eram considerados heresia ou feitiçaria, motivos
para perseguições e castigos. A Inquisição era um verdadeiro tribunal que julgava e condenava as pessoas
que considerava hereges. Qualquer um que questionasse as idéias e as práticas
da Igreja poderia ser levado aos tribunais do Santo Ofício.
Muitos séculos se passaram, e somente no século XVI, veremos
o poder da Igreja Católica ser abalado, com o Movimento da Reforma Religiosa. A
Reforma constituiu-se num rompimento da Igreja Católica e teve como
conseqüência religiosa o surgimento de novas igrejas – conhecidas como
protestantes (luteranismo, calvinismo). O conflito tem início quando Martinho
Lutero (1484–1546), monge alemão rompe com o Papa porque discordava de algumas
práticas da Igreja, como a venda de indulgências, de relíquias e cargos.
A partir do Iluminismo, teremos o acirramento do conflito
entre ciência e religião. Galileu Galilei (1564–1642) foi obrigado pela Igreja
a negar sua teoria (heliocentrismo), caso não desejasse sofrer as penas da
Inquisição. O Iluminismo introduziu formas inéditas de ver o mundo, que até
então era percebido somente em termos religiosos, e esta nova visão estava
associada a uma nova classe social que se insurgia contra o poder
aristocrático. Neste período (séc.XVIII), a religião está associada ao poder
aristocrático. Portanto, é fácil perceber que a luta contra o pensamento
religioso transformou-se numa luta política, contra os representantes deste
pensamento conservador. É neste contexto histórico (séc.XIX), que alguns
teóricos da Sociologia iniciam seus estudos sobre a religião. Karl Marx (1818
-1883), Émile Durkheim (1858 -1917) e Max Weber(1864 -1920) mais uma vez nos
auxiliam nesta tarefa da Sociologia de analisar contextualmente e desnaturalizar
as relações sociais. Chegam a conclusões distintas em suas análises e reflexões
sobre as funções da religião nas sociedades. No entanto, num aspecto é possível
observar a convergência entre os três pensadores: são unânimes em anunciar o
previsível fim da religião. Afirmam que com o desenvolvimento das sociedades
industriais, a religião tenderia a perder espaço para outras atividades
sociais. Ou seja, a modernização e a industrialização levaria ao que a
Sociologia denomina de processo de secularização. É!! Parece que se
equivocaram! Caso contrário não estaríamos neste momento gastando nossas horas
com esse estudo. Para Durkheim, a
religião teria a função de fortalecer os laços de coesão social, e contribuir
para a solidariedade dos membros do grupo. Por isso, as cerimônias e os
rituais ganham uma grande importância, suma vez que são estes momentos que
possibilitam o encontro dos fiéis e a reafirmação de suas crenças. Durkheim
iniciou e baseou suas análises em uma
pesquisa realizada com os povos aborígenes australianos, na qual abordava a
prática do totemismo. Um totem é um objeto sagrado, um símbolo do grupo,
venerado nas cerimônias ritualísticas. Pode ser uma planta, um animal, ou
objeto, que por possuir, em sua origem, um significado especial para o grupo,
adquire o caráter de sagrado. A utilização do termo Totem está restrito às
religiões chamadas “elementares” ou simples. Reafirmando, podemos concluir que
para Durkheim, a religião possui unicamente a função de conservar e fortalecer
a ordem estabelecida. De forma alguma pode ser associada a questões de poder
político ou ideológico.
“A secularização representa o processo por meio do qual a
religião perde sua influência sobre as diversas esferas da vida social”.
(GIDDENS, 2005, p. 437)
Marx muitas vezes
foi citado como um crítico mordaz da religião, devido principalmente à sua
famosa frase: “a religião é o ópio do povo” (MARX, 1991: 106). Mas veremos que
isto não é bem assim. Marx foi um grande pensador e crítico do sistema
capitalista. Suas análises e críticas estão focadas no lucro, na mais-valia, na
divisão da sociedade entre burguesia e proletariado, na luta de classes.
Portanto, suas principais preocupações estavam focadas nas condições materiais
das vidas das pessoas, na concretude do sistema. Para ele, a forma como a
sociedade se organiza para produzir os seus bens materiais, ou seja, a forma de
organização do trabalho vai exercer forte influência sobre a forma como as
pessoas pensam. Este pensar é representado pelo conjunto de valores e
conhecimentos impostos pelo Estado e pela religião. Em seu texto “A questão
judaica”, escrito em 1844, Marx discute a respeito do papel desempenhado por estas instituições no sentido
de controlarem e modelarem o pensamento social. Para Marx, a sociedade civil só
terá condições de alcançar a liberdade, ou a emancipação humana” quando tiver
condições de participar efetivamente das decisões políticas do Estado, e por
conseguinte alcançar a verdadeira democracia. Mas atenção! Entenda-se
democracia não somente em sentido político/eleitoral, como nos ensinaram os liberais
do século XVIII, mas sim em seu sentido pleno, como igualdade na distribuição
dos bens socialmente produzidos e materializados na forma de direitos sociais. Por
esse motivo, podemos afirmar que para Marx, a grande transformação deveria
acontecer no modo da sociedade produzir e distribuir seus bens, assim como na
presença de um Estado que atendesse aos interesses coletivos, pois uma vez
construída uma sociedade justa e igualitária, não haveria mais necessidade das
pessoas sonharem com um mundo ideal, ou um paraíso. “Ópio do povo” significa
que o povo projeta em seus deuses e no mundo sobrenatural a vida que deseja ter
aqui na Terra. Esta forma de pensar leva à resignação, a aceitação das condições
de nossa vida como um destino que não pode ser modificado. Mas Marx demonstra
grande compreensão pela manifestações religiosas quando afirma: “a religião é o
coração de um mundo sem coração” (MARX, 1991:106), ou seja, a religião é o
único refúgio, o único consolo para aqueles a quem a vida é muito dura e
ingrata. Essa é mais uma forma de compreendermos a religião. Que nos leva à
acomodação, à submissão, à aceitação de nosso lugar na sociedade sem
questionamentos como nos sugere o ensinamento “é mais fácil um camelo passar
num buraco da agulha que um rico entrar no reino dos céus”.
Weber foi um
grande estudioso da religião. Empreendeu análises comparativas entre as
religiões orientais e ocidentais, com o objetivo de compreender as razões do
desenvolvimento do capitalismo na Europa. Concluiu que o mundo oriental não
oferecia condições para este tipo de organização econômica devido aos seus
sistemas religiosos (que veremos adiante), os quais pregavam valores de
harmonia com o mundo, de passividade em relação às condições de existência, ao
contrário das religiões cristãs que incentivavam o trabalho e a prosperidade. Em
sua obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, Weber desenvolve um
interessante estudo em que demonstra o quanto os protestantes (em especial os
calvinistas) contribuíram para o desenvolvimento do capitalismo. Esses possuíam
um forte espírito empreendedor baseado na crença de que com o trabalho estariam
servindo a Deus. O enriquecimento e o sucesso material eram sinais de
favorecimento divino. Esses são, portanto, três possíveis olhares sociológicos
sobre a instituição religiosa. Como já comentamos anteriormente, saber da
existência e conhecer outras religiões, além de ampliar nosso universo cultural
e nos ensinar a respeitar a diversidade cultural, leva-nos principalmente a compreender
melhor nossa própria religião. Sim, porque só nos percebemos como construtores
de cultura na medida em que conhecemos a cultura do outro. Quando só conheço o
meu mundo este se torna “natural”, ou o único possível! Importa ressaltar,
antes de conhecermos o quadro das religiões, a existência de uma postura
filosófica denominada Ateísmo. Surge na antigüidade greco-romana e ganha maior
espaço à partir do século XVIII, com o surgimento das teorias anarquistas,
liberais e socialistas. Consiste na total ausência de explicação divina para a
vida. Vamos, em seguida, apresentar as principais religiões que podemos encontrar
espalhadas por todo o mundo. Apenas
citaremos e apontaremos algumas características de cada uma delas. O interesse
e a curiosidade de vocês poderá levar à pesquisa e ao aprofundamento sobre o
assunto.
Religiões
originárias do Extremo-Oriente
Taoísmo
Baseia sua doutrina num livro chamado “Tao Te Ching” – o
livro do Tao (ordem do mundo) e do Te (força vital), escrito presumivelmente pelo
filósofo chinês Lao Tsé, no séc. VI a. C. O Taoísmo prega a passividade para se
alcançar o Tao, ao contrário do confucionismo que propõe o conhecimento. Para
Lao Tsé, o mundo ideal era aquele das antigas aldeias, onde a simplicidade e a
ingenuidade criariam as condições propícias para o perfeito equilíbrio entre o
Tao e o Te.
Xintoísmo
Trata-se da antiga religião oficial do Japão.
Originariamente não possuía um fundador, doutrinas nem dogmas. Estrutura-se por
intermédio de um conjunto de mitos e ritos que estabelecem o contato com o
divino e explicam a origem do mundo, do Japão e da família imperial japonesa. O
universo xintoísta é povoado por milhares de deuses, denominados kamis – que se
manifestam na forma de rios, montanhas, flores, seres humanos, animais, etc.
Kami também pode ser traduzido por espírito, sendo o culto aos ancestrais uma
das práticas mais importantes do xintoísmo.
Hinduísmo
São surpreendentes a permanência no tempo e a complexidade desta
religião, que perdura há aproximadamente 6 mil anos, e compõe-se de tão grande
variedade de cultos e práticas religiosas,
que pode ser considerada como um grande conjunto formado por várias pequenas
religiões. Mas algumas características unem todos os hinduístas, quais sejam: o
sistema de castas, a adoração às vacas e a crença no carma. A organização da
sociedade em castas parte do princípio de que os indivíduos vêm ao mundo já
ocupando um lugar na hierarquia social, como resultado de suas encarnações nas
vidas passadas. Portanto, este deve cumprir com resignação a função que lhe
coube, porque um viver com pureza pode resultar como “prêmio”, uma vida futura numa
casta superior. As quatro castas do hinduísmo são: 1º. – os sacerdotes
(brâmanes), 2º. – guerreiros, 3º. – agricultores, comerciantes e artesãos e 4º.
– os servos. Um quinto grupo que não é considerado casta são os párias. Cada
casta tem suas próprias regras de condutas e suas próprias regras religiosas. A
vaca é considerado um animal sagrado, um símbolo da vida, porque ela supre tudo
que é necessário à sobrevivência humana, portanto, não é permitido matá-la.
Budismo – criado na Índia, pelo príncipe Sidarta Gautama
O Buda (o iluminado), por volta do séc. VI a.C.. Este é
tratado pelos adeptos do budismo como um guia espiritual, e não um deus. Importa
ressaltar que Buda era absolutamente contra o sistema de castas existente na
Índia. Segundo o budismo, o ser humano está condenado à reencarnação após cada
morte, e a enfrentar novamente os sofrimentos do mundo (lei do carma). Para
encerrar este constante ciclo, deve-se buscar o estado da perfeita iluminação,
ou nirvana. Este estado é alcançado por intermédio da meditação e da
contemplação, que corresponde à negação
dos desejos – fonte de todos os sofrimentos.
Confucionismo
Foi a doutrina oficial da China durante quase dois mil anos
(do séc.II ao início do séc. XX). Criada pelo filósofo Confúcio (Kung Fu Tzu),
seus ensinamentos apontam no sentido da busca do caminho do Tao – que seria o
equilíbrio e a harmonia entre o universo, a natureza e o indivíduo. Para alcançar este caminho é
necessário o conhecimento e a compreensão,
os quais são obtidos por meio do estudo do passado, da
tradição. A respeito da vida após a morte, Confúcio não ousava comentar, uma
vez que ainda não havíamos compreendido o que é a vida na Terra.
Religiões de origem africana
Citaremos aqui somente as principais religiões
afro-brasileiras presentes hoje no Brasil, não esquecendo de que, na África,
encontraremos uma grande variedade de religiões – as religiões tradicionais ou
tribais.
Candomblé
Originário da África, o candomblé chegou ao Brasil junto com
os primeiros escravos africanos, entre os séc. XVI e XVII. Seus deuses são
chamados de Orixás e representam as principais ações africanas de língua iorubá. Suas
cerimônias são realizadas em língua africana, acompanhadas de cantos e sons de
atabaques. Como esta forma de religião era proibida no Brasil, seus adeptos
associaram seus deuses a santos católicos, criando o que se conhece como
sincretismo religioso. Os deuses do candomblé dão proteção às pessoas, mas não
determinam como essas devem agir, e não castigam caso essas cometam algo considerado
incorreto para a sociedade.
Umbanda
É uma religião brasileira, resultado da fusão de duas
religiões africanas: a cabula e o candomblé, e de crenças européias. O universo
para os umbandistas é habitado por entidades espirituais – os guias, que entram
em comunicação com as pessoas por intermédio dos iniciados,ou médiuns. Os guias assumem formas como
o caboclo, a pomba-gira, o preto velho e outros. A umbanda se propagou por
todas as regiões do Brasil, e é freqüentada por pessoas de todas as classes sociais
e todas as origens étnicas.
Religiões originárias do Oriente-Médio
As religiões comentadas abaixo adotam a prática do
monoteísmo, ou seja, o culto a um único Deus.
Judaísmo
É a mais antiga da três grandes religiões monoteístas, sendo
suas origens encontradas há aproximadamente 1.OOO anos a.C. A palavra judeu
deriva de Judéia, parte de uma região do antigo reino de Israel. Os judeus
crêem num único Deus, onipotente, o qual estabeleceu com eles um pacto, uma
aliança. Por isso, consideram-se “o povo escolhido por Deus”. O livro sagrado
dos judeus é a Bíblia judaica, ou Torá, que corresponde ao Antigo Testamento
dos cristãos, porém organizada de uma forma um pouco diferente. A vida dos
judeus é regida por normas rígidas estabelecidas por Deus. O não-cumprimento
dos deveres com Deus e com seus semelhantes implicará em castigos divinos.
Cristianismo
Tem origem no séc.I, na região ocupada hoje pelos atuais Estados
de Israel e territórios palestinos. Seus primeiros adeptos são os seguidores de
Jesus Cristo e de seus apóstolos. A doutrina cristã nos ensina que Deus envia à
Terra, seu filho Cristo – o salvador, o qual foi morto a favor dos homens que
estavam distanciado- se de Deus. Na sua ressurreição Jesus oferece às pessoas a
possibilidade de salvação eterna após a morte, caso essas aceitem seguir seus
preceitos de amor a Deus e aos seus semelhantes. O cristianismo segue a Bíblia,
que se divide em Antigo e Novo Testamento. Algumas vertentes do cristianismo
são apresentados a seguir: Igreja Católica Romana, Igreja Ortodoxa, Igreja
Anglicana, Igreja Luterana, Igreja
Presbiteriana, Igreja Metodista, Igreja Batista, Igreja Pentescostais: Congregação Cristã no Brasil, Assembléia de Deus, Evangelho Quadrangular Deus é Amor.
Igrejas
Neopentecostais: Igreja Universal do Reino de Deus, entre outras, como Cristianismo de fronteira: Mórmons, Adventistas,
Testemunhas de Jeová, Islamismo, Sua origem baseia-se nos ensinamentos do
profeta Maomé, assim como ocorre com o cristianismo. A palavra islã significa
submeter-se.
Seu deus é chamado Alá, e seus seguidores são conhecidos
como muçulmanos (em árabe Muslim, aquele que se subordina a Deus). O livro sagrado
do islamismo é o Alcorão, sendo seus principais ensinamentos: onipotência de
Deus e a necessidade de bondade, generosidade e justiça entre as pessoas. A
maioria dos muçulmanos está concentrada no norte e no leste da África, no
Oriente Médio e no Paquistão. Após elencarmos todo este numeroso rol de
religiões e suas subdivisões em igrejas, que alíás não termina aqui, se você
pesquisar, certamente encontrará outras ramificações destas religiões ou seitas
isoladas e provavelmente você ficará surpreso com a quantidade e a diversidade de
manifestações religiosas existentes no mundo. Este quadro constitui-se no que
se chama de pluralismo religioso, e certamente nos coloca importantes questões
sociológicas, que não poderão ser aprofundadas neste momento, mas sobre as
quais vale a pena pensar:
A lógica do mercado que nas últimas décadas do século XX
invadiu todas as esferas da vida humana nas sociedades capitalistas não poupou
as religiões. Por isso, temos que estar atentos aos “espertalhões”, que se aproveitam
dos sofrimentos e falta de perspectivas das pessoas para vender sua
“mercadoria” e ganhar adeptos que favorecerão seus “negócios”.
O desenvolvimento industrial levaria a uma perda da
influência das religiões, diziam os teóricos do séc. XIX. A ciência avançou
vertiginosamente no último século, e as religiões, por sua vez, ganharam uma
abrangência e diversidade nunca antes conhecidas. É importante observar o papel
dos meios de comunicação na difusão de mensagens religiosas, que chegam prontas
em nossas casas.
Não importam suas crenças religiosas, não importa se você é
ateu. Mas importa que você não espere o
mundo acabar para lembrarse da experiência da vida, do presente, que se acaba e
recomeça a cada dia.